quarta-feira, 15 de junho de 2016


O PROBLEMA DANILO, A ILUSÃO SANCHES

Danilo perdido

Neste momento Danilo é o problema da selecção. Ou "um dos" pelo menos. Não por ser bom ou mau jogador, não por estar em boa ou má forma. Não por ter feito um bom ou mau campeonato.

Danilo é o problema porque a suas características não se enquadram com o modelo de jogo que os restantes jogadores da selecção requerem.

Dono de uma estampa física de meter respeito, forte nas bolas divididas, provavelmente o segundo atrás de Pepe na discussão das bolas aéreas, em teoria a presença de Danilo no onze titular faz todo o sentido. A sua presença permitiria discutir a primeira bola bombeada para o meio-campo de Portugal e contrariaria a força física da Islândia.

Contudo uma das características que Danilo não tem é a capacidade de distribuição de jogo na primeira fase de construção, ou pelo menos uma capacidade que permita alterações de ritmo, de profundidade e de rotura.

Ora para contornar esta limitação Portugal procurou três soluções: a saída pelos laterais, o que obrigava a não se projectarem tanto para poderem estar no inicio da construção, a saída pelos centrais, que pelas características destes resultava quase sempre em bolas bombeadas para as costas da defesa onde estas tinham vantagem, e a principal solução que passava por baixar João Moutinho para ser este quem iniciava a fase de construção.

Ora o problema é que baixando Moutinho para o lado de Danilo ficávamos de imediato com quatro jogadores fora das linhas da Islândia: os dois centrais, Danilo e João Moutinho.

Como os laterais não se podiam projectar muito porque poderiam ser necessários para a construção de jogo, nem João Mário nem André Gomes tinham apoios para poderem fazer movimentos interiores o que obrigou-os a ficarem encostados às linhas na primeira fase de construção.

Ronaldo não tem as características de recuar e jogar de costas para a baliza, tabelando com os colegas e Nani ocupava a função de ponta de lança procurando espaços de rotura entre os centrais.

Ora o que isto provocou foi um enorme espaço vazio à frente de Moutinho. Quando Moutinho recuava para iniciar a construção olhava para a frente e procurava um jogador que fizesse movimentos entre linhas, recebesse a bola de costas para tabelar ou para procurar passes de rotura no bloco central. Mas esse jogador não estava lá, porque esse jogador deveria ser o próprio Moutinho, que no entanto estava preso às funções de construtor devido à incapacidade de Danilo.

Não é à toa que vimos inúmeras vezes Roaldo a tentar descer para pegar jogo mas sem sentido e sem utilidade porque essas não são as suas características. Não é à toa que vimos Pepe a fazer lançamentos para a área e não é à toa que todo o jogo assentava numa circulação inócua em U, resultando em muitos remates mas quase todos de fora de área sem ser resultado de passes de rotura.

Ora se a presença de Danilo provoca este problema na fase de construção, seria importante que marcasse a diferença na luta aérea pela primeira bola. Mas infelizmente nem nesse momento do jogo mostrou-se capaz de impor a sua presença perdendo inúmeras bolas, sendo a mais importante a que resultou no golo da Islândia.

No entanto, está-se a formar a ideia de certo modo bem vinda pela comunicação social, de que o problema foi Moutinho e de que o que a selecção necessita é de alguém que com bola no pé e a partir de trás queime linhas e provoque ruturas. Esse alguém seria Renato Sanches.

No entanto, esse seria um equivoco maior que o de Danilo. Não por Renato não ser bom jogador ou não provocar esses espaços. Mas porque com Renato a equipa parte-se quando em transição e apesar de provocar ruturas a equipa perde o controlo do jogo porque entra num jogo de recupera,perde,recupera bola. Apesar de ter agitado o jogo, após a sua entrada a selecção não mais controlou o jogo como o fez na primeira parte. Foi incapaz a partir desse momento de encostar a equipa da Islândia lá atrás e circular a bola como seria necessário e como fez a Espanha mesmo até aos 87 minutos. Em vez disso tivemos arrancadas e iniciativas que são vistosas mas que redundam em nada a não ser a entrega da bola  ao adversário mais rápido e com a nossa equipa desposicionada.

O que Portugal necessita é de um trinco que assuma a primeira fase de construção, capaz de controlar os tempos e de fazer rodar o jogo permitindo iniciar uma construção a três e libertar os laterais para se projectarem  e ocuparem as faixas e fazendo os médios derivarem para o meio onde com o apoio de Moutinho garantem superioridade numérica. Esse jogador é William Carvalho.

E se a questão é as bolas aéreas, bem a verdade é que mesmo com Danilo mais valia assumir  a perda da primeira bola e colocar um jogador só para importunar na disputa da primeira bola e baixar mais o trinco para criar superioridade na disputa da segunda bola.

Não quer isto dizer que Danilo e Renato não serão úteis para Portugal. Apenas que nestes jogos em que as equipas se fecham lá atrás mas têm um bocadinho de mais talento que a estónia utilizar um trinco como Danilo é estar a jogar com menos um na fase de construção. Com equipas mais fortes que pressionem Portugal mais à frente ai sim Danilo e Renato Sanches fazem sentido pois podem esticar mais o jogo.

Sobre Moutinho gostaria de deixar uma pequena nota. Creio que a ideia de Moutinho ter feito um péssimo jogo resulta mais de uma questão de posicionamento de que de uma questão de forma. Se Moutinho jogar mais à frente a capacidade de receber e circular a bola entre linhas virá ao de cima e veremos ai se está ou não em boa forma.

No entanto caso se verifique que não é uma questão de posicionamento a alternativa mais credível será sem dúvida Adrien. Nem Renato, nem Rafa, nem Quaresma. Talvez Nani mas ai ficamos com um problema no ataque, pois apesar dos ultimos jogos de Quaresma ele não ocupa os mesmos espaços que Nani tem ocupado.

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